segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Referência: Cao Guimarães e a História do não-ver



O artista convidou alguns amigos para que o sequestrassem. Para além do convite inesperado, o sequestrado ainda tinha o direito de ir de vendas e com uma máquina fotográfica e filmes PB em mãos. Tais eram as únicas exigências para que o sequestro ocorresse.

Iniciam-se os sequestros, e o artista passa a remontar os espaços para o qual ele é levado (sem saber quais são) através das próprias lembranças, o que permite perceber-se num sítio aberto (parque, jardim, campo), fechado (quarto, loja, barbearia), tal como os objetos que o rodeiam. Sendo assim, todas as informações sinestésicas passam a compor o cenário que ele cria em sua mente.

Durante os sequestros, apesar de não ver com os olhos, o artista passa a perceber o espaço de outra forma, continua a vê-lo, mas, sem olhos. Desse modo, com a máquina fotográfica criar retratos muito poéticos das experiências pelas quais está passando.

O produto final desse trabalho se apresenta a partir das fotografias e do texto que o artista produziu a partir de cada sequestro: surge então um filme e um livro com esse material.

Achei um artigo sobre esse trabalho, e retirei algumas frases que considerei relevantes sobre ele e sobre o que nós estamos nos perguntando nessa fase inicial de nosso trabalho:

"O texto aqui não visa à restituição do visível, pois é justamente a ausência desta dimensão sensorial que caracteriza a “experiência”. É a impossibilidade de ver que permite ao artista ter a experiência de "ver sem os olhos".

"Simultaneamente vem à tona nas estórias das “experiências” a ausência muda a que são
habitualmente relegados os sentidos cujo objeto não é visual: audição, tato, olfato e
paladar". A visão é tão forte que acaba por deixar de lado os outros sentidos...

"a perda do sentido da visão desorienta funções práticas visando
utilidades e a “experiência” abre então uma disponibilidade." é, portanto, ao não-ver, que a experiência surge.

"Que um fotógrafo busque não somente a revelação dos outros sentidos mas ainda
fotografar o não-visto é algo que aponta (o que não valeria para um fotógrafo realmente
cego) para um cansaço de imagens, uma saturação da sua previsibilidade." Exato! Esse é um dos aspectos que considero ao pensar no não-ver: romper a saturação das imagens, esse cansaço, a previsibilidade, desautomatizando o que é considerado normal e comum.

"O caráter didático da “experiência” está em seu possível poder de reeducar uma visão esgotada
(pelo bombardeio mercantil de imagens) justamente através de sua perda provisória." Zás!! aqui se dá a experiência na obra do Cao Guimarães! a experiência surge a partir da impossibilidade de ver, e daí, surge algo de novo, surge algo de aprendizado, que é onde queremos chegar, mas, temos que pensar em qual será nossa experiência. A mesma que a do Cao? Outras?

"As imagens, no entanto, só são visualizáveis durante a “experiência” através da lembrança." A relação entre a lembrança e as imagens.

"é o chão retirado ao ordinário, revelando a existência de outro mundo ali mesmo onde o hábito velara o abismo: o infraordinário miraculoso dos outros sentidos, a estranheza mortal de estar vivo acordado." Esse trecho faz emergir a sensação de quão cegos estamos com relação aos outros sentidos.

quão cegos estamos com relação aos outros sentidos...?
quão cegos estamos com relação aos outros sentidos...?
quão cegos estamos com relação aos outros sentidos...?

por tanto ver, já não vemos? frente à tanta luz, não distinguimos formas. Cao mostra que é possível ver o não-ver. o não ver dele corporifica-se na fotografia "às cegas" e na experiência que permite aos outros sentidos "verem".

se quiser, dê uma olhada no site dele
http://www.caoguimaraes.com/page2/principal_new.php

na página inicial, tem um pontozinhos bem pequenitos.. links que levam aos trabalhos. tem que achar o Histórias do não-ver.

mandei, também, um email para o site, para saber se é possível enviar, ou se há disponível, o vídeo desse trabalho. sei que há no Museu de Arte Moderna de São Paulo, mas, esses 8 mil km não dão jeito! lol